Argumento

Nesta pesquisa pretende-se estudar como se deu a retomada do cineclubismo na cidade do Rio de Janeiro. Quem o pratica e com quais intenções, o que motiva esta pratica social e como e se ela se reflete em outras esferas de relações.

A escolha do recorte na cidade do Rio de Janeiro se justifica pela importância histórica que a cidade tem para o movimento. Foi nela que surgiu o primeiro cineclube do país, o Chaplin Club, fundado em junho de 1928. Os cineclubistas do Estado do Rio de Janeiro compuseram a primeira Federação a se reorganizar após o golpe de 1968. Hoje o Rio é o estado mais expressivo em número de cineclubes depois de São Paulo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Participação dos cineclubistas fluminenses na Pré-Jornada Nacional de Cineclubes

A participação dos cineclubistas do Estado do Rio de Janeiro no evento, que durou quatro dias, foi intensa e engajada. Houve uma tensão natural, devido ao peso da delegação fluminense ser responsável pela produção da 27ª Jornada Nacional de Cineclubes, a ocorrer no Rio no ano comemorativo de 80 anos da atividade, 2008.

Os temas decididos como base para a Jornada Nacional de 2008, foram: o projeto da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV), o cineclubismo na educação, a sustentabilidade da atividade, a comunicação do movimento na rede audiovisual e os direitos do público. Este último tema talvez seja o termo que mais traduza esse movimento; quais são os direitos do espectador, como garanti-los e quais os seus limites?

No capitalismo, as obras de arte são mercadorias. Isso se aplica à informação jornalística e a tudo que está na mídia. A abordagem de Néstor García Canclini sobre esse tema é de que o problema da projeção do real nas produções latino americanas deriva da propriedade privada dos meios de produção, que tem por função servir a uma economia mercantilista. O mercado cultural, que permite ao artista viver da sua produção, submete a obra à homogeneidade cega dos preços e determinações dos compradores.

A atividade cineclubista se torna, assim, uma válvula de escape desta mercantilização da produção artística. Unida à democratização dos meios de produção deflagrada pelas novas tecnologias, mais leves, mais baratas e de manuseio mais simples que as máquinas de cinema anteriores, os cineclubes ressurgem como um espaço para escoar essa produção independente e democrática, livre de motivações econômicas, normalmente excluída das salas de cinema comerciais e até mesmo dos festivais, já que muitos exigem que uma produtora (pessoa jurídica) inscreva o filme.

Mesmo em cineclubes como o da ABI e o Cinegostoso, onde se exibem filmes antigos, observa-se o engajamento frente à esta causa. Tais filmes também não se encontram disponíveis nas salas comerciais e alguns nem mesmo nas melhores locadoras.

Nesta pequena inserção no universo cineclubista, percebe-se não só uma modesta democratização dos meios de produção e exibição cinematográficos, mas também uma apropriação da atividade artística e cultural como meio para revitalização. Nesse ponto, chega-se até à reutilizações de espaços físicos e sociais, como prédios de prostituição e auditórios institucionais, antes usados apenas por uma classe ou atividade específica. Com o cineclube, esses lugares passaram a ser abertos ao público.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Viagem cineclubista

Sexta-feira, 11 de outubro, às 6 horas da manhã, eu e meu marido embarcamos, a convite do presidente do CNC, num ônibus que veio de São Paulo para buscar os cineclubistas cariocas para a Pré Jornada Nacional, que ocorreria em Vitória (ES).

Eram 26 pessoas representando o Rio de Janeiro, entre os quais Gabriela Paes de Carvalho Rocha, representando a ANCINE, Alessandra Stropp Borba, pela União Nacional dos Estudantes (UNE), e representantes da ASCINE – RJ (Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro) e da ABD & C (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas do Rio de Janeiro).

Foi uma viagem agradável, de uma harmoniosa integração entre paulistas e cariocas contrariando as lendas de rixas que envolvem os dois estados. Nas 12 horas de viagem foram exibidos diversos estilos cinematográficos, desde expressionismo alemão até filmes de humor do site Youtube (www.youtube.com).

A proposta não era assistir e debater, como na premissa cineclubista, mas os comentários e trocas de opiniões foram surgindo expontâneamente durante a exibição dos filmes.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Cineclube universitário faz exibição sem debate

Na terça-feira, dia 02 de outubro, não havia nenhuma sessão. A maioria delas é mensal ou quinzenal, e quase todas acontecem no final da tarde ou à noite.

Na quarta-feira, fui ao Cinerama, o Cineclube da ECO, a Escola de Comunicação da UFRJ. Era uma iniciativa dos alunos. As atividades então,aconteciam quinzenalmente no auditório da CPM, no campus da Praia Vermelha, às 18 horas.

Quando cheguei ao CPM (Centro de Produção Multimídia), não havia nenhum indício da exibição. Já estava na hora marcada e ninguém da organização estava presente. Nenhum público à espera, nada. Resolvi perguntar ao segurança que tomava conta da portaria, ele estava atrás de um balcão, com o que parecia ser um livro de ponto aberto à sua frente.

O segurança me informou que não haveria sessão, que não tinha ninguém do cineclube e nenhum cartaz que indicasse o evento. Já estava indo embora quando os responsáveis pelo Cinerama chegaram, afobados. Uma menina falava ao celular, perguntando sobre a cópia do filme que seria exibido. Perguntei aos outros se eles eram do Cinerama e recebi a confirmação. Perguntei ainda se haveria sessão e eles responderam que sim, entre risos de constrangimento pela confusão. Avisei que o segurança estava informando que não haveria exibição e eles foram falar com ele. “Ih, já mandei um monte de gente embora, vocês não colocam cartaz aqui. Como é que eu vou descobrir que vai ter filme?”, disse o funcionário.

Finalmente, chega o rapaz que estava encarregado de trazer o filme. Ele se atrasou porque não conseguia estacionar o carro. A exibição do filme Ritual dos Sádicos, de José Mojica Marins (o Zé do Caixão), começa com mais de meia hora de atraso.

O Cinerama costuma realizar sessões sob eixos temáticos. Desta vez, se tratava da questão sado-masoquista. Nem sempre são feitos debates e, na ocasião, nada havia sido planejado para que houvesse um. Apenas oito pessoas na platéia composta pelos organizadores, eu e uma amiga, que convidei para a exibição. Ao final do filme, só restamos nós duas, mais duas pessoas da organização.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Segunda feira, primeiro de outubro, dia da seção semanal do Cine ABI.

A Associação Brasileira de Imprensa fica na Rua Araújo Porto Alegre, 71, num majestoso e fúnebre prédio institucional da década de 1950. Segundo o arquiteto Lauro Cavalcanti o edifício foi o primeiro arranha-céu modernista do mundo. A sede, palco de campanhas históricas e alvo de atentados, está com nove dos 13 andares penhorados. Os gigantescos halls vazios e escuros revelam que ABI é hoje uma sombra do passado de lutas pela democracia e pela liberdade de imprensa.

Ao sair do elevador me deparei com um grupo de pessoas, todas com mais de 50 anos, conversando no hall do auditório. Fui assinar o livro de presença e pude observar que ali tinha um público de mais ou menos 35 pessoas, entre os que assinaram e os que esperavam para assinar.

Entramos todos, a programação se trata de O signo do Caos de Rogério Sganzerla, um filme experimental de quase duas horas, com um áudio que pouco se entendia e uma estética pouco compreendida até no meio intelectual cinematográfico.

Estavam presentes dois atores do filme: Helena Inez, que é também viúva do diretor e Eduardo Cabus. A sessão é aberta por um longo discurso do também cineasta e professor de cinema da UFF (Universidade Federal Fluminense) Sérgio Santeiro, seguido da fala da viúva e atriz do filme. Todo discurso não passa de uma ode ao cinema experimental e uma homenagem ao falecido diretor.

Tem início o filme, pouco mais de meia hora depois as pessoas começam a sair da sala. Era um projeto experimental demais para aquele público, composto, majoritariamente, por senhoras idosas pertencentes a uma elite conservadora.

Ao fim da projeção preciso ir ao banheiro, quando volto encontro com Jesus Chediak, diretor cultural da ABI, no hall dos elevadores, ele estava preocupado com a debandada do público e puxou conversa comigo dizendo – “Não vamos mais passar este tipo de filme aqui, vou falar com o Santeiro, o público daqui não está preparado." – Só ouvi e procurei ser simpática, entramos juntos para o debate.

Ainda restavam umas 15 pessoas, logo descobri que 10 eram do núcleo da casa. Eles fizeram um semicírculo entre as primeiras cadeiras perto do palco com as duas pessoas que estavam no palco, mais uma vez Helenas Inez e Santeiro. Começou uma discussão sobre a personalidade do diretor, sua ousadia, como era a experiência de trabalhar com ele, a conversa era tão íntima e especializada que as demais pessoas se sentiram deslocadas e logo se retiraram, eu inclusive.

terça-feira, 10 de março de 2009

Vencendo medos e preconceitos num cineclube diferente

No domingo, 30 de setembro de 2007, a experiência foi bem diferente. O horário escolhido para a atividade cineclubista foi o mesmo do da ABD&C, no final da tarde, mas a proposta era outra. Cinegostoso ou “Como é gostoso nosso cineclube” é uma das atividades dentro do projeto SEX_ART, que “está transformando hotéis de alta rotatividade, em galerias de arte erótica”.

Artistas de diversas áreas e correntes pintam a arte do sexo nos quartos e dependências dos hotéis, estes, se disponíveis podem ser visitados por quaisquer transeuntes amantes das artes, 24 horas por dia, sete dias na semana.

O Cinegostoso entra nessa programação utilizando uma espécie de sala de “conferência” do hotel que se está trabalhando no momento, no caso o Hotel Paris, na Praça Tiradentes (centro da cidade), todo último domingo do mês.

Os filmes exibidos são clássicos pornográficos e da Pornochanchada brasileira e após cada exibição é realizado um debate com a presença de algum convidado que tenha participado do filme.

Confesso que fomos à Praça Tiradentes, eu e meu marido, porque sem conhecimento prévio do ambiente, não teria coragem de ir desacompanhada. Foi com um misto de euforia curiosa e preconceito em relação aos tipos que poderíamos encontrar por lá, afinal, tudo se espera quando se aventura a visitar um hotel de prostituição do centro da cidade, que nos lançamos nessa experiência.

O Hotel Paris é fácil de localizar, fica bem em frente ao teatro João Caetano. A boa movimentação cultural do teatro produz uma certa tranquilidade. “Ao menos o entorno parece bom”, comentou meu marido. A entrada do hotel era uma pequena e velha porta com uma escada de degraus bem gastos, no estilo dos velhos sobrados do início do século passado.

Ao subir as escadas, no primeiro lance um casal que parecia trabalhar na recepção logo nos indicou o local da exibição sem mesmo que perguntássemos qualquer coisa. Uma prostituta negra, vestida de trajes simples, cruzou conosco pelas escadarias, em silêncio.

Senti que nossa aparência já denunciava o porquê da nossa presença ali. Seguimos por um corredor estreito de iluminação vermelha, até que chegamos a uma sala relativamente espaçosa com uma espécie de palquinho logo na entrada. O mastro no centro do pequeno palco revelava a original utilização do espaço, agora revertido em balcão para expor camisetas do movimento Sex_art entre outras roupas de brechó chique. As portas das sacadas estavam abertas o que oferecia boa ventilação ao lugar numa tarde quente e abafada. A vista para o teatro era agradável e trazia pra dentro do hotel uma lufada cultural. Ali naquela sala o clima não era mais de rendez-vous.

Um vídeo clipe de música clássica experimental introduzia os presentes, possivelmente equivocados, ao nível intelectual da proposta artística. Esta era a segunda sessão do cineclube, de um movimento que já existe há mais de um ano e já está transformando o segundo hotel de prostituição do centro da cidade em também um espaço cultural.

Surpreendeu por sua recente iniciativa a pequena sala contar com dezoito espectadores. Quase a mesma quantidade de público do tradicional cineclube visitado no dia anterior. Imaginava encontrar um público semelhante ao que frequenta os cinemas de pornografia do Centro da cidade. Formado na maioria, se não na totalidade, por homens, que buscam desafogar seus desejos sexuais incontroláveis no intervalo de almoço da sua jornada de trabalho.

O público na verdade era formado por jovens de ambos os sexos interessados em cinema. Muitos deles eram casais e alguns estudantes de cinema, talvez atraídos pelo organizador da sessão, e então diretor da ASCINE Rodrigo Bouillet, cria do curso de cinema da UFF.

O filme do dia era As estórias que nossas babás não contaram, filme que marcou a carreira da atriz e dançarina Adele Fátima, e que o organizador da exibição copiou diretamente da TV a cabo. Quando a atriz foi convidada para palestrar se animou em comparecer, mas logo que soube onde seria realizada a sessão declinou sua intenção em participar deixando um buraco no debate.

Foi uma pena, mas há que se entender a posição da atriz que em outros tempos foi muito apontada como colega das meretrizes que trabalham naquele lugar. Hoje, prefere não frequentar a fim de evitar más interpretações acerca da sua conduta.

Debate mesmo não houve, apenas uma fala de Rodrigo e de mais um estudante da UFF que está produzindo um documentário sobre Adele Fátima, de sua trajetória como atriz. Mesmo com o debate frustrado, a ausência da palestrante foi uma mensagem que o público recebeu e saiu dali refletindo e comentando com outros. Para esta sessão pagamos cinco reais por pessoa e ganhamos três rodadas de pipoca durante o filme.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Racismo é discutido no cineclube da ABD&C em parceria com a ONG Estimativa

Sábado, dia 29 de setembro de 2007, na sessão do cineclube ABD&C, que acontece regularmente todos os sábados na Casa de Cultura Rui Barbosa.

Esta foi uma exibição produzida em parceria com a ONG Cinemativa, que apresentou dois filmes com a temática de identidade afro-descendente e vida familiar. Dos filmes exibidos, Família Alcântara, um documentário que conta a história de uma família descendente de africanos escravizados em Minas Gerais, foi o que eu pude assistir por inteiro.

Entre uma sessão e outra os representantes da ONG fizeram uma interferência apresentando o filme seguinte e lembrando aos presentes que após a seção seria feito um debate.

Quando entrei no meio do filme anterior, não tive dificuldades em encontrar um lugar para me sentar mesmo em meio à escuridão. A sala da Casa de Rui Barbosa é grande e imponente e o público não parecia numeroso. Ao acenderem as luzes pude perceber que não chegava a vinte pessoas, algumas das quais não ficaram para assistir o filme seguinte.

Os documentários, muito bem produzidos e de temática interessante pareciam não ser suficientes para atrair grande público mesmo com entrada franca. Alguns fatores, como a escolha do dia de sábado à tarde numa cidade como o Rio de Janeiro, quando a praia passa a ser o maior atrativo da população, pode ser uma explicação. Outra poderia ser a fraca divulgação restrita a programação no site da Fundação.

Ainda durante o filme pude perceber, sentado algumas cadeiras à minha esquerda, um senhor negro a fazer anotações em um bloquinho, pensei logo que se tratava de algum acadêmico realizando uma pesquisa. Quando o filme acaba e as luzes se acendem, alguns dos poucos espectadores se retiram da sala, mesmo perante o posicionamento dos organizadores à frente da tela. Tem início o debate com a seguinte pergunta:

“Bom pessoal... o que vocês acharam dos filmes?”

O silêncio é aterrador. À frente da tela está um casal negro, a moça representa a ONG Cinemativa e o rapaz representa o Cineclube ABD&C. Diante do silencio a moça resolve apresentar a ONG: “Cinemativa é um projeto de cinema itinerante da ONG Estimativa que visa fazer parcerias com diversas instituições a fim de exibir filmes nacionais e documentários para que o povo brasileiro possa ver na tela o seu próprio rosto”. A ONG tende a trabalhar com questões de gênero e raça, possuindo também um projeto que comemora o Dia Internacional da Mulher Negra, daí a importância de se debater os temas trabalhados nos filmes como a questão da identidade negra nas famílias brasileiras.

Quando uma pessoa se anima a falar parece que outras também se encorajam. Apesar da temática étnica o público era bastante diversificado. Quando começou a se falar sobre as questões de discriminação racial, e dificuldade do próprio negro brasileiro em se assumir como negro, uma mulher, de mais ou menos 50 anos pediu a palavra e contou que sua origem árabe, despertou muito preconceito nos seus colegas na infância. Lembrou que a discriminação não é racial e sim cultural e que tudo que é diferente geralmente causa repulsa.

Outros relatos semelhantes foram proferidos em relação aos índios e pessoas de comunidades marginalizadas. Duas mulheres solicitaram a exibição do filme “Brasileirinho” que está há tempos sendo esperado entre a programação do cineclube. O cineclube da ABD&C (Associação de Documentaristas e Curta-metragistas) prioriza a exibição destes formatos, mas a seleção temática dos filmes é variada a cada semana.

Mesmo em dia de pouco público, afinal não fui a outras seções para ter um parâmetro de audiência, pude perceber a presença de pessoas cativas entre os demais atraídos pelo tema. Podemos dizer também que apenas um terço dos presentes no início da sessão do primeiro filme ficou para o debate final. Mas para os que ficaram, mesmo com as dificuldades de iniciar o bate papo, o conteúdo da discussão foi bem proveitoso em relação à proposta trabalhada nos filmes.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um debate sobre a regulamentação da atividade promovido pela ASCINE – RJ e o Festival de Cinema do Rio 2007

Setembro de 2007, no teatro do Centro Cultural da Justiça Federal.

Compunham a mesa, o presidente do CNC, o capixaba Antônio Claudino de Jesus, um dos diretores da ABD, o pernambucano Guilherme Whitaker e o paulista Leopoldo Nunes, chefe de gabinete da Secretaria do Audiovisual, para mediar Rodrigo Bouillet, um dos diretores da ASCINE – RJ.

A primeira fala foi do presidente do CNC, que fez um breve relato do histórico do movimento, enaltecendo a grande conquista de finalmente, com quase oitenta anos de atividade, ter seu reconhecimento por parte do governo federal, o que além de proteger as atividades, abre possibilidades para editais de fomento a abertura de novos cineclubes no território brasileiro.

Segundo o presidente do conselho, cineclube é uma entidade sem fins lucrativos que objetiva a formação de um público em defesa da soberania nacional. Uma entidade democrática na qual o centro da atenção não está nas estrelas do cinema e sim no seu público. “O cineclube é a cidadania do audiovisual nacional!” afirmava convicto Antônio Claudino de Jesus finalizando seu caloroso discurso de abertura da mesa.

O discurso de Claudino remonta uma inquietação expressa por Nestor Garcia Canclini (1984) em A socialização da arte, obra contemporânea da crise do cinema brasileiro que faz uma crítica ao modelo hollywoodiano que se impõe desde a produção audiovisual, passando pela sua distribuição e exibição, monopolizando todo o processo cinematográfico em panorama mundial.

Canclini discorre sobre a Induústria Cultural que ditou a classe comercial, determinando que deva se atender às necessidades das massas. E aponta que movimentos como Cinema Novo (Brasil) e Nouvelle Vague (Argentina) – 1960 – foram esforços em vão contra a eficácia da máquina comercial. Falta apoio econômico do Estado e a concorrência entre canais independentes planejados para a distribuição e as empresas norte-americanas é desigual, esclarece o autor.

A crise do cinema brasileiro no final dos anos 80 reduziu a atividade a um número tão ínfimo de cineclubes que não havia uma representatividade que justificasse a articulação nacional. A atividade foi considerada extinta e só em 1995 surgiu o movimento de repolitização do cinema brasileiro, que rearticulou o movimento cineclubista até a 24ª Jornada Nacional de Cineclubes.

Leopoldo Nunes, em nome da ANCINE (Agencia Nacional de Cinema) afirmou o interesse do governo federal em incentivar essa rearticulação e legitimação do movimento, reconhecendo a importância do papel do cineclube na formação do olhar e do imaginário coletivo.

Espera-se que este movimento estatal em relação aos cineclubes venha a minimizar os problemas apontados por Canclini. Os cineclubistas acreditam que, agora com o reconhecimento institucional, possam começar e a encarar a Indústria Cultural de frente e até judicialmente pelo direito de exibição. A primeira das brigas será pelo direito atemporal de exibição de filmes feitos com recursos da Lei do Incentivo Fiscal. “Se o filme é feito com dinheiro do povo, ele pertence ao povo”, disse o presidente do CNC.

A diretora da Riofilme, Germana Lúcia de Araújo, estava presente na platéia do evento. Em parceria com a ASCINE –RJ será feito um levantamento do público dos cineclubes associados e os dados serão públicos.

O não reconhecimento da atividade cineclubista pelo ECAD foi uma das discussões mais calorosas da noite, agora com reconhecimento institucional o ECAD não poderá mais “multar os cineclubes a torto e a direito”, segundo Whitaker.

Foi muito importante fazer esta primeira incursão começando pelo encontro com o movimento político da atividade. Assim foi possível contextualizar esta pesquisa com o atual momento e agora ir a campo observar se o discurso político do movimento cineclubista se confirma na atividade diária dos cineclubes cariocas.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Cineclubando - trabalho de campo - primeira incursão

Para esta primeira incursão no campo foi feito um levantamento dos cineclubes da cidade e suas programações. Neste primeiro momento observa-se que há um diálogo fluente entre a ASCINE-RJ e o CNC (Conselho Nacional de Cineclubes, e que os cineclubes filiados a associação local estão também no mapeamento nacional.

Em setembro de 2007, quando foi dado início a este trabalho, o mapeamento contava com 14 cineclubes cariocas, muitos dos quais (em torno de oito ou dez) criados e mantidos pela própria associação ou com a ajuda dela. O mapeamento hoje está em 32 cineclubes, mas com consciência de que há muitos ainda por serem mapeados.

Para o trabalho de campo foram escolhidos não só os cineclubes associados, mas também os independentes.

Os cineclubes visitados foram ABD&C (ASCINE), Cinegostoso ou Como é gostoso nosso cineclube (ASCINE), Cine ABI e Cinerama (UFRJ - ECO).

Foi montado um cronograma de visitação aos cineclubes e atividades afins, objetivando preencher o espaço de sete dias corridos com diferentes atividades cineclubistas na cidade.

A incursão tem início no encontro de Reconhecimento Instituicional dos Cineclubes. Um debate sobre a regulamentação da atividade promovido pela ASCINE – RJ e o Festival de Cinema do Rio 2007.

terça-feira, 3 de março de 2009

Panorâmica

A atividade cineclubista é praticada no Brasil desde 1928, quando na cidade do Rio de Janeiro foi fundado o primeiro cineclube do país, o Chaplin Club.

Por manter uma atividade sistemática e organizada alcançou grande repercussão nos meios cultos da então Capital Federal. Reunia as figuras de maior prestígio no ambiente cultural carioca, influenciando as principais polêmicas da época.

O Chaplin Club lançou, entre outros filmes que marcam a história do cinema no Brasil, Limite, de Mário Peixoto, e O Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein. Em agosto de 28 o cineclube criava a revista O Fã, seu órgão oficial, que duraria apenas dois anos.

Fazendo oitenta anos em 2008, os cineclubistas brasileiros, atualmente, são organizados por cidadãos de diversas representações sociais. Os cineclubes não nascem mais apenas dos núcleos cultos das grandes cidades, e suas motivações não se restringem às de ordem política ou estética.

segunda-feira, 2 de março de 2009

O outro lado da moeda tecnológica

As evoluções tecnológicas não trazem apenas vantagens. O movimento ainda encontra muita dificuldade para uma real ocupação no meio cultural. O que por um lado facilitou o acesso aos filmes e a prática de exibição, acabou também limitando, através do mercado de digitalização e de distribuição de filmes, a prática e o público de um cineclube, assim como resultou em brigas judiciais dos cineclubes contra as empresas distribuidoras pelo direito de exibição.

Conte sua experiência cineclubista

Para compreendermos o atual universo cineclubista carioca precisamos saber quem são os personagens que figuram esta história.

Caso você seja um cinéfilo frequentador de um cineclube, alguém que tomou a iniciativa de fundar um ou um realizador que tem no cineclube o espaço de distribiuição de sua obra, relate-nos sua história.

Ela será publicada neste blog e fará parte da pesquisa monográfica.