Argumento

Nesta pesquisa pretende-se estudar como se deu a retomada do cineclubismo na cidade do Rio de Janeiro. Quem o pratica e com quais intenções, o que motiva esta pratica social e como e se ela se reflete em outras esferas de relações.

A escolha do recorte na cidade do Rio de Janeiro se justifica pela importância histórica que a cidade tem para o movimento. Foi nela que surgiu o primeiro cineclube do país, o Chaplin Club, fundado em junho de 1928. Os cineclubistas do Estado do Rio de Janeiro compuseram a primeira Federação a se reorganizar após o golpe de 1968. Hoje o Rio é o estado mais expressivo em número de cineclubes depois de São Paulo.

terça-feira, 10 de março de 2009

Vencendo medos e preconceitos num cineclube diferente

No domingo, 30 de setembro de 2007, a experiência foi bem diferente. O horário escolhido para a atividade cineclubista foi o mesmo do da ABD&C, no final da tarde, mas a proposta era outra. Cinegostoso ou “Como é gostoso nosso cineclube” é uma das atividades dentro do projeto SEX_ART, que “está transformando hotéis de alta rotatividade, em galerias de arte erótica”.

Artistas de diversas áreas e correntes pintam a arte do sexo nos quartos e dependências dos hotéis, estes, se disponíveis podem ser visitados por quaisquer transeuntes amantes das artes, 24 horas por dia, sete dias na semana.

O Cinegostoso entra nessa programação utilizando uma espécie de sala de “conferência” do hotel que se está trabalhando no momento, no caso o Hotel Paris, na Praça Tiradentes (centro da cidade), todo último domingo do mês.

Os filmes exibidos são clássicos pornográficos e da Pornochanchada brasileira e após cada exibição é realizado um debate com a presença de algum convidado que tenha participado do filme.

Confesso que fomos à Praça Tiradentes, eu e meu marido, porque sem conhecimento prévio do ambiente, não teria coragem de ir desacompanhada. Foi com um misto de euforia curiosa e preconceito em relação aos tipos que poderíamos encontrar por lá, afinal, tudo se espera quando se aventura a visitar um hotel de prostituição do centro da cidade, que nos lançamos nessa experiência.

O Hotel Paris é fácil de localizar, fica bem em frente ao teatro João Caetano. A boa movimentação cultural do teatro produz uma certa tranquilidade. “Ao menos o entorno parece bom”, comentou meu marido. A entrada do hotel era uma pequena e velha porta com uma escada de degraus bem gastos, no estilo dos velhos sobrados do início do século passado.

Ao subir as escadas, no primeiro lance um casal que parecia trabalhar na recepção logo nos indicou o local da exibição sem mesmo que perguntássemos qualquer coisa. Uma prostituta negra, vestida de trajes simples, cruzou conosco pelas escadarias, em silêncio.

Senti que nossa aparência já denunciava o porquê da nossa presença ali. Seguimos por um corredor estreito de iluminação vermelha, até que chegamos a uma sala relativamente espaçosa com uma espécie de palquinho logo na entrada. O mastro no centro do pequeno palco revelava a original utilização do espaço, agora revertido em balcão para expor camisetas do movimento Sex_art entre outras roupas de brechó chique. As portas das sacadas estavam abertas o que oferecia boa ventilação ao lugar numa tarde quente e abafada. A vista para o teatro era agradável e trazia pra dentro do hotel uma lufada cultural. Ali naquela sala o clima não era mais de rendez-vous.

Um vídeo clipe de música clássica experimental introduzia os presentes, possivelmente equivocados, ao nível intelectual da proposta artística. Esta era a segunda sessão do cineclube, de um movimento que já existe há mais de um ano e já está transformando o segundo hotel de prostituição do centro da cidade em também um espaço cultural.

Surpreendeu por sua recente iniciativa a pequena sala contar com dezoito espectadores. Quase a mesma quantidade de público do tradicional cineclube visitado no dia anterior. Imaginava encontrar um público semelhante ao que frequenta os cinemas de pornografia do Centro da cidade. Formado na maioria, se não na totalidade, por homens, que buscam desafogar seus desejos sexuais incontroláveis no intervalo de almoço da sua jornada de trabalho.

O público na verdade era formado por jovens de ambos os sexos interessados em cinema. Muitos deles eram casais e alguns estudantes de cinema, talvez atraídos pelo organizador da sessão, e então diretor da ASCINE Rodrigo Bouillet, cria do curso de cinema da UFF.

O filme do dia era As estórias que nossas babás não contaram, filme que marcou a carreira da atriz e dançarina Adele Fátima, e que o organizador da exibição copiou diretamente da TV a cabo. Quando a atriz foi convidada para palestrar se animou em comparecer, mas logo que soube onde seria realizada a sessão declinou sua intenção em participar deixando um buraco no debate.

Foi uma pena, mas há que se entender a posição da atriz que em outros tempos foi muito apontada como colega das meretrizes que trabalham naquele lugar. Hoje, prefere não frequentar a fim de evitar más interpretações acerca da sua conduta.

Debate mesmo não houve, apenas uma fala de Rodrigo e de mais um estudante da UFF que está produzindo um documentário sobre Adele Fátima, de sua trajetória como atriz. Mesmo com o debate frustrado, a ausência da palestrante foi uma mensagem que o público recebeu e saiu dali refletindo e comentando com outros. Para esta sessão pagamos cinco reais por pessoa e ganhamos três rodadas de pipoca durante o filme.

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Conte sua experiência cineclubista

Para compreendermos o atual universo cineclubista carioca precisamos saber quem são os personagens que figuram esta história.

Caso você seja um cinéfilo frequentador de um cineclube, alguém que tomou a iniciativa de fundar um ou um realizador que tem no cineclube o espaço de distribiuição de sua obra, relate-nos sua história.

Ela será publicada neste blog e fará parte da pesquisa monográfica.