A participação dos cineclubistas do Estado do Rio de Janeiro no evento, que durou quatro dias, foi intensa e engajada. Houve uma tensão natural, devido ao peso da delegação fluminense ser responsável pela produção da 27ª Jornada Nacional de Cineclubes, a ocorrer no Rio no ano comemorativo de 80 anos da atividade, 2008.
Os temas decididos como base para a Jornada Nacional de 2008, foram: o projeto da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV), o cineclubismo na educação, a sustentabilidade da atividade, a comunicação do movimento na rede audiovisual e os direitos do público. Este último tema talvez seja o termo que mais traduza esse movimento; quais são os direitos do espectador, como garanti-los e quais os seus limites?
No capitalismo, as obras de arte são mercadorias. Isso se aplica à informação jornalística e a tudo que está na mídia. A abordagem de Néstor García Canclini sobre esse tema é de que o problema da projeção do real nas produções latino americanas deriva da propriedade privada dos meios de produção, que tem por função servir a uma economia mercantilista. O mercado cultural, que permite ao artista viver da sua produção, submete a obra à homogeneidade cega dos preços e determinações dos compradores.
A atividade cineclubista se torna, assim, uma válvula de escape desta mercantilização da produção artística. Unida à democratização dos meios de produção deflagrada pelas novas tecnologias, mais leves, mais baratas e de manuseio mais simples que as máquinas de cinema anteriores, os cineclubes ressurgem como um espaço para escoar essa produção independente e democrática, livre de motivações econômicas, normalmente excluída das salas de cinema comerciais e até mesmo dos festivais, já que muitos exigem que uma produtora (pessoa jurídica) inscreva o filme.
Mesmo em cineclubes como o da ABI e o Cinegostoso, onde se exibem filmes antigos, observa-se o engajamento frente à esta causa. Tais filmes também não se encontram disponíveis nas salas comerciais e alguns nem mesmo nas melhores locadoras.
Nesta pequena inserção no universo cineclubista, percebe-se não só uma modesta democratização dos meios de produção e exibição cinematográficos, mas também uma apropriação da atividade artística e cultural como meio para revitalização. Nesse ponto, chega-se até à reutilizações de espaços físicos e sociais, como prédios de prostituição e auditórios institucionais, antes usados apenas por uma classe ou atividade específica. Com o cineclube, esses lugares passaram a ser abertos ao público.
Sua Majestade, O Delegado!
Há 9 anos
1 comentários:
Olá Bruna,
Parabéns pelo blog.
Eu acabei de ingressar o mestrado em Antropologia na Universidade de Brasília, e pretendo estudar o circuito cineclubista da Baixada Fluminense.
O meu foco nessa região é devido a atuação desses grupos como coletivos de produçãi audiovisual. O ponto de partida seria o Mate com Angu.
enfim, vou acompanhando o seu blog
abraço!
Postar um comentário