Setembro de 2007, no teatro do Centro Cultural da Justiça Federal.
Compunham a mesa, o presidente do CNC, o capixaba Antônio Claudino de Jesus, um dos diretores da ABD, o pernambucano Guilherme Whitaker e o paulista Leopoldo Nunes, chefe de gabinete da Secretaria do Audiovisual, para mediar Rodrigo Bouillet, um dos diretores da ASCINE – RJ.
A primeira fala foi do presidente do CNC, que fez um breve relato do histórico do movimento, enaltecendo a grande conquista de finalmente, com quase oitenta anos de atividade, ter seu reconhecimento por parte do governo federal, o que além de proteger as atividades, abre possibilidades para editais de fomento a abertura de novos cineclubes no território brasileiro.
Segundo o presidente do conselho, cineclube é uma entidade sem fins lucrativos que objetiva a formação de um público em defesa da soberania nacional. Uma entidade democrática na qual o centro da atenção não está nas estrelas do cinema e sim no seu público. “O cineclube é a cidadania do audiovisual nacional!” afirmava convicto Antônio Claudino de Jesus finalizando seu caloroso discurso de abertura da mesa.
O discurso de Claudino remonta uma inquietação expressa por Nestor Garcia Canclini (1984) em A socialização da arte, obra contemporânea da crise do cinema brasileiro que faz uma crítica ao modelo hollywoodiano que se impõe desde a produção audiovisual, passando pela sua distribuição e exibição, monopolizando todo o processo cinematográfico em panorama mundial.
Canclini discorre sobre a Induústria Cultural que ditou a classe comercial, determinando que deva se atender às necessidades das massas. E aponta que movimentos como Cinema Novo (Brasil) e Nouvelle Vague (Argentina) – 1960 – foram esforços em vão contra a eficácia da máquina comercial. Falta apoio econômico do Estado e a concorrência entre canais independentes planejados para a distribuição e as empresas norte-americanas é desigual, esclarece o autor.
A crise do cinema brasileiro no final dos anos 80 reduziu a atividade a um número tão ínfimo de cineclubes que não havia uma representatividade que justificasse a articulação nacional. A atividade foi considerada extinta e só em 1995 surgiu o movimento de repolitização do cinema brasileiro, que rearticulou o movimento cineclubista até a 24ª Jornada Nacional de Cineclubes.
Leopoldo Nunes, em nome da ANCINE (Agencia Nacional de Cinema) afirmou o interesse do governo federal em incentivar essa rearticulação e legitimação do movimento, reconhecendo a importância do papel do cineclube na formação do olhar e do imaginário coletivo.
Espera-se que este movimento estatal em relação aos cineclubes venha a minimizar os problemas apontados por Canclini. Os cineclubistas acreditam que, agora com o reconhecimento institucional, possam começar e a encarar a Indústria Cultural de frente e até judicialmente pelo direito de exibição. A primeira das brigas será pelo direito atemporal de exibição de filmes feitos com recursos da Lei do Incentivo Fiscal. “Se o filme é feito com dinheiro do povo, ele pertence ao povo”, disse o presidente do CNC.
A diretora da Riofilme, Germana Lúcia de Araújo, estava presente na platéia do evento. Em parceria com a ASCINE –RJ será feito um levantamento do público dos cineclubes associados e os dados serão públicos.
O não reconhecimento da atividade cineclubista pelo ECAD foi uma das discussões mais calorosas da noite, agora com reconhecimento institucional o ECAD não poderá mais “multar os cineclubes a torto e a direito”, segundo Whitaker.
Foi muito importante fazer esta primeira incursão começando pelo encontro com o movimento político da atividade. Assim foi possível contextualizar esta pesquisa com o atual momento e agora ir a campo observar se o discurso político do movimento cineclubista se confirma na atividade diária dos cineclubes cariocas.
TRAILER A FE
Há 6 anos
1 comentários:
Estive presente esse debate e como cineclubista fazendo uma análise depois de 2 anos vejo que o numero de cineclubes aumentou, muitos cuneclubes por falta de apoio fecharam e outros novos apareceram, mas a força política da movimentou cresceu e muito, hoje há um dialogo mais direto com o poder publico tanto municipal quanto estadual, e agora com o +Cultura, federal.
Outros problemas continuam, o ECAD continua multando os cineclubes, irracionalmente. E mesmo com a contabilização mensal do publico cineclubista e dos ingressos feitos com o apoio da Rio Filmes a ANCINE continua a desprezar esse publico, exemplo disso é a inexistência dos dados cineclubistas em seu site, mesmo existindo a Minuta que reconhece a existência dos Cineclubes.
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